Introdução

Caro leitor, convido você neste momento a adentrar em um mundo relativamente novo, resultado de mais de 50 anos de desenvolvimento do computador pessoal, mais de 30 anos de desenvolvimento de sistemas baseados na internet e mais de 15 anos depois do lançamento do iPhone, como disrupção de sistemas de computação móvel.

Neste cenário, empresas como Facebook, Amazon, Google e Apple, por exemplo, apresentadas por Galloway (2017) como Os quatro em alusão às quatro grandes empresas baseadas em sistemas de tecnologia e inovação da atualidade, crescem cada dia mais, superando já o valor na casa do trilhão de dólares. Estes são alguns exemplos de organizações exponenciais. Vamos conhecer seu perfil?

Organizações Exponenciais (ExO)

As organizações exponenciais são representadas por organizações empresariais voltadas aos negócios da atualidade, que sustentam um pensamento de grandiosidade, baseado em um Propósito Transformador Massivo (PTM), defendido por Ismail, Malone e Geest (2019). Estas empresas pensam grande, buscam realizar negócios de grande impacto para a humanidade e em nível global. Para Ismail, Malone e Geest (2019, p. 19), organizações exponenciais “são aquelas cujo impacto é, pelo menos, dez vezes maior, comparado aos de seus pares, devido ao uso de novas técnicas organizacionais que alavancam as tecnologias aceleradas”. Elas estão centradas na transformação digital como elemento disruptivo de negócios. O contexto de haver inovação não pode ser exclusivo de startups.

Ao avaliarmos o perfil das empresas que tiveram um desenvolvimento de negócios nos últimos 20 ou 30 anos, quatro grandes empresas da área de tecnologia da informação geraram mais alegria, conexões, prosperidade e descobertas do que qualquer outra entidade da história humana, relata Galloway, 2017. A Apple, a Amazon, o Facebook e o Google, já apresentados, ou ainda o Uber, Airbnb, Tesla, Ted, dentre muitas outras são empresas que modificaram (e continuam modificando) a forma como as pessoas vivem.

Chiavenato (2021, p. 378), um dos principais pensadores da administração no Brasil relata uma pesquisa da McKinsey que apresentou empresas que conseguiram se transformar em organizações digitais de alto empenho como àquelas que são capazes de orquestrar seis abordagens importantes: estratégia e inovação, visão sobre a decisão do cliente, automação de processos, organização, tecnologia e dados com analytics. Este pensamento está fortemente alinhado com Dornelas (2021) quanto ao uso de tecnologias e ambiente da Internet como oportunidades de novos negócios. Veja a figura 1com uma diagramação destas abordagens estratégicas.

Figura 1 – Estratégias de empresas digitais de alto desempenho

Fonte: adaptado de Chiavenato (2021).

Propósito Transformador Massivo (PTM)

As organizações exponenciais são representadas por organizações voltadas à negócios que mantém um pensamento baseado em um Propósito Transformador Massivo (PTM).

O PTM é o seu ponto focal de desenvolvimento de negócios, e explora a neurociência. Ela é baseada no acrônimo IDEAS com os significados de interfaces, dashboards, experimentação, autonomia e tecnologias sociais, gerenciados pelo lado esquerdo do cérebro humano responsável pela ordem, controle e estabilidade. Do outro lado temos o acrônimo SCALE com os significados de staff sob demanda, comunidade e multidão, algoritmos, ativos alavancados e engajamento, comandados pela criatividade, crescimento e incerteza, gerenciados pelo lado direito do cérebro.

IDEAS:

• Interfaces: processos de filtragem e comparação pelos quais as organizações exponenciais ligam as externalidades às estruturas de controle interno. Como resultado temos valor interno, conexão de crescimento externo e fatores internos de automação que permitem a escalabilidade.
• Dashboards: representam os painéis de dados oriundos normalmente de sistemas de Business Intelligence ou outro sistema mais simples que coletam e apresentam dados de forma que se tornem informações com significados para o crescimento do negócio. Resulta em monitoramento de fatores críticos de sucesso.
• Experimentação: implementação da metodologia da startup enxuta de Eric Ries (2019) com testes e experimentos constantes e riscos controlados. Resulta em processos alinhados com externalidades com rápidas mudanças, maximização da captura de valor e a utilização do Minimum Valuable Product (MVP).
• Autonomia: trabalho de equipes auto gerenciadas e multidisciplinares que operam com uma autoridade descentralizada. Resulta em maior agilidade, mais responsabilidade no contato direto com o cliente, tempos de aprendizado e de reação mais rápidos e moral das equipes também altas.
• Tecnologias sociais: transformar os ambientes tradicionais de negócio em ambientes digitais. Resulta em conversas mais rápidas, ciclos de decisão mais rápidos, aprendizado mais rápido e estabilidade da equipe durante o crescimento rápido.

SCALE:

• Staff sob demanda: equipe dimensionada conforme as necessidades do negócio. Resulta em aprendizagem, agilidade e cria laços fortes dentro da equipe principal.
• Comunidade e multidão: desenvolvimento de comunidade para o negócio. Resulta em aumento da fidelidade, promoção do crescimento, aprovação de novas ideias e aprendizados, agilidade e rápida implementação e amplifica a ideação.
• Algoritmos: sistemas informatizados baseados em algoritmos com aprendizado de máquina para gerar inteligência no negócio. Resulta em produtos e serviços escaláveis, potencialização de dispositivos conectados, menor incidência de erros e facilidade de atualização.
• Ativos alavancados: prática de outsourcing, como ferramenta para alugar e compartilhar ativos no lugar de compra. Resulta em produtos escaláveis, redução de custo, remoção de necessidades de gerenciamento dos ativos e aumenta a agilidade do negócio.
• Engajamento: comportamento humano colaborativo como comportamento social em busca de resultados e influenciando pessoas. Resulta em aumentar a fidelidade, amplificar a ideação, converter multidões em comunidades, alavancar o marketing, permite jogar e aprender e oferece um ciclo de feedback digital com usuários. Veja a representação destes componentes do PTM na figura a seguir.

saiba mais

Um Propósito Transformador Massivo (PTM) é um elemento de desenvolvimento de negócios para estruturação das diretrizes estratégicas que complementa ou mesmo substitui a missão, visão e valores de uma empresa. Este conceito leva em consideração o que a empresa pretende fazer e busca uma transformação nos negócios. Este direcionador deve refletir o “coração e a mente” junto às imaginações e ambições das pessoas dentro e fora de uma organização.

Figura 2 – Propósito Transformador Massivo

Fonte: adaptado de Ismail, Malone e Geest (2019).

Exemplos de PTM:

• TED: “Ideias que merecem ser espalhadas”.
• Google: “Organizar a informação do mundo”.
• Singularity University: “Impactar positivamente um bilhão de pessoas”.

Diamandis e Kotler (2019, p. 51) refletem que o mundo global e exponencial é diferente daquele que nosso cérebro evoluiu para entender, porém a adaptação para o pensamento inovador é possível. Estes autores apresentam um conjunto de oito princípios de inovação praticados pela Google na governança de suas estratégias corporativas baseadas em tecnologia. Conheça esses princípios: foco no usuário, compartilhamento, busca por ideias em toda parte, pensamento grande, mas com atividades iniciais pequenas, fracasso como aprendizado, imaginação para desencadear ideias alimentadas com dados, negócios baseados em plataformas digitais e uma missão significativa. Revisitando Dornelas (2020), uma nova plataforma junto com ideias derivadas e empreendimentos avançados e são sua classificação para as oportunidades inovadoras.

As organizações exponenciais pertencem a ambientes dinâmicos que possuem características particulares. Estas organizações possuem, de acordo com Ismail, Malone e van Geest (2019) seis dinâmicas que as diferenciam de outras

• Consideram que a informação acelera tudo.
• Percorrem uma forte corrida para a desmonetização (desmaterializando o que pode ser digitalizado).
• Para elas, a disrupção é a nova norma.
• O menor vence o maior.
• Alugam dispositivos e equipamentos, e não os compram.
• Colocam a confiança (empowerment) no lugar de controle gerencial e o aberto no lugar do fechado.

Avaliando o contexto de atitude empreendedora Farrell (2019), as organizações exponenciais fazem uso intenso da inovação e do perfil empreendedor, e ainda tem em Dornelas (2020) inspiração sobre o empreendedorismo para criar conglomerados de empresas que incrementam o negócio e deixam as organizações ainda maiores e mais valiosas. Dornelas (2021) ainda sustenta que muitos negócios iniciados puramente online continuam a surgir, principalmente direcionados com vendas de produtos de nicho no varejo e com prestação de serviços especializados utilizando-se do mundo virtual. Não é apenas o uso de tecnologias que as fazem diferentes, mas também o intenso perfil empreendedor.

Em resumo

Vimos nesta aula uma breve apresentação sobre o perfil das organizações exponenciais. Tomamos conhecimento que estas organizações fazem uso intenso de tecnologias da informação e conectividade para produzirem um ecossistema de empresas, que em alguns casos, já possuem valor acima da casa dos trilhões de dólares. Como dinâmicas que as caracterizam pudemos conceber que elas: consideram que a informação acelera tudo; percorrem uma forte corrida para a desmonetização (desmaterializando o que pode ser digitalizado); para elas, a disrupção é a nova norma; O menor vence o maior; Alugam dispositivos e equipamentos, e não os compram; Colocam a confiança no lugar de controle e o aberto no lugar do fechado.